Curta Curtinha

      Hoje é um dia, uma noite para ser mais precisa, em que o trabalho me parece uma coisa interminável. Terei de ficar noite dentro a dar um concerto com as teclas do meu computador. Espero nesse concerto conseguir tecer as palavras certas que me faltam e preparar uma sinfonia digna de ser lida.

     Enquanto aguardo pela hora certa para começar, aproveito para rabiscar umas palavritas por aqui e deixar duas curtas muito divertidas: Pigeon Impossible (Pombo Impossível - Claro que lembra a Missão Impossível! Até tem bastantes paralelismos.) e The Passenger (O Passageiro, ao estilo da saga Alien) para rir e aliviar o stress de um dia, uma noite ou madrugada.

      Fica também a música que dava o mote à série da minha infância e pré-adolescência, Missão Impossível:

Mission Impossible .
      E, já agora, a respeito de The Passenger recordei-me de duas músicas do século passado:

The Passenger (1977) de Iggy Pop; 

The Passenger (1987) uma adaptação de Siouxsie and the Banshees.

Momento de Poesia

Convite Triste


Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.


Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.


Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.


Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'

Curta Curtinha

      Certamente, alguns de vocês já se sentiram obcecados com alguma coisa. Nem que fosse com a colecção de cromos do Roque Santeiro! Lá estou eu a falar do meu tempo. É verdade.
      No meu tempo, lá atrás, no século XX, havia uma telenovela que se chamava Roque Santeiro. Das personagens, lembro-me da viúva Porcina (Devia ser por causa do nariz!), do Roque Santeiro (Claro!), do Zé das Medalhas, do Sinhozinho Malta, do lobisomem e da Dona Pombinha… Então, os miúdos do meu tempo andavam obcecados com estes cromos para a sua caderneta. Até havia uns mais difíceis de encontrar do que outros.

      A curta curtinha, A Última Tricotada, aqui debaixo, fala de uma obsessão bastante comum: fazer tricot (Pensei logo nas senhoras que vão no comboio a tricotar com agulhas e nem olham para o lado. Também há aquelas que tricotam com as agulhas e com a língua, se lhes derem atenção.). O que aconteceria se a linha acabasse? Até onde estariam estas senhoras tricotadeiras dispostas a ir? E se não tivessem as agulhas? Dá que pensar…
      The Last Knit (2005), A Última Tricotada, é uma curta finlandesa, da realizadora Laura Neuvonen.

Momento de Poesia

SIMULTANEIDADE

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou-me matar! Eu quero viver!

- Você é louco?

- Não, sou poeta.

                                                                                                           Mário Quintana